O mundo está ao contrário e ninguém reparou, já dizia Nando, um dos célebres músicos brasileiros.
Parada em frente à tela em branco me deparo com a resposta,
aposta, a posto. As relações humanas em degelo, coisas que o superaquecimento das
águas oceânicas não explica.
Liquidez, força e motricidade são três palavras que se repelem
no momento em que nos fazendo concluir, com certa obviedade, que os amores
escorrem entre os dedos, que as apostas foram perdidas e que o erro,
considerado humano, torna-se algo mais mercadológico do que simples ato de
fazer compra no supermercado.
Amor líquido, já dizia Zigmunt Bauman. Amor em degelo, àquele
que após derreter-se com o calor do mercado diversificado, torna-se água gelada,
im-bebível pela amargura acumulada. Veja só aonde chegamos. Tornamos-nos produtos
de um supermercado falido, de uma gôndola de produtos usados e em decomposição.
Autodestruição ou não, os relacionamentos já não nos dizem
mais sobre liberdade confiada no próximo, mas nos induzem a ver compromissos
afetivos como perda de tempo ou melhor: como ganho de experiência.
Experiência em quê?
Em começar e iniciar o ciclo infinitas vezes a procura da
satisfação em um mundo insatisfeito.
Fordismo ou liquidez. Certo ou errado. Branco ou preto. Tudo
ou nada. Não se sabe o que é pontual, não se sabe o que é certeza. A única
coisa que podemos concluir é que estamos vivos no sentido obsoleto da palavra.
A vida é um punhado de sal que se joga pela janela no
intuito de espantar o temporal. É a magia em insistirmos ter certeza sem a
menor noção e não compreendermos nada do que nos cerca.
A magia de estar vivo é deitar no travesseiro e esquecer
daquilo que nos diferencia dos animais: a racionalidade.
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