domingo, 2 de novembro de 2008

Uma chuva e alguns avulsos


“Só que os escritores são seres muito cruéis estão sempre matando a vida à procura de histórias.”

Nos dias de chuva, quando tudo está úmido, quando minha mente está embaçada, sinto de leve um resquício de perfume sobre minhas mãos. Esses cheiros antigos, quando já mofos pelo tempo têm um desejo incontestável de ressurgir.

Quando a tarde está assim, mórbida e nostálgica, algumas frases começam a se acumular, quase que incessantes. Um impulso me leva ao papel, e um amor me tira as palavras. Rendida por. Foge-me alguma exata.

Você quer o sim, você o aspira quando o medo é barrado na porta e então pula a basculante do banheiro, úmida e embaçada, neste dia de chuva.

As águas correm na rua – fluvial -, as águas derretem das nuvens – pluvial -, os bueiros abarrotados de lixo, assim como fico, nestes dias úmidos e de chuva.

O livro sobre a mesa não nega que tenho um vício pela fome: “... porque saciar a fome poderia trazer, digamos, mais conforto?...”. Sei que não estou alinhada, nem respectiva, apenas úmida, abarrotada, entupida e embaçada. Cruel.

Enquanto a chuva passa, neste dia cinza... Enquanto outubro começa a dar as caras... Enquanto recebo essa iluminação que se contorce, a qual chamamos com certo descuido de amor...



30 de setembro de 2008.