quinta-feira, 15 de abril de 2010

Eu em você


Que lugar é esse em que me jogo? “Eu nunca estive tão perto de mim mesma” – eu dizia sem parar enquanto a água da chuva cortava o vidro com pingos brutos. Eu estava num ônibus lotado, como todos os dias, mas nunca tinha estado tão em silêncio, tão atenciosa com meus pensamentos, com o que sou, com o que fui, com o que fomos...
Ao mesmo tempo em que fazia uma prece a São Longuinho, Negrinho do Pastoreio e afins, eu estava centrada nesse pensamento. “Eu nunca estive tão dentro de mim mesma”. Parecia-me incrível ter trazido minha vida até onde está com pensamentos tão superficiais. Em um breve lapso comecei a emergir em uma cena que nunca presenciei verdadeiramente. Lá estava você, tão meu. Que porra de encruzilhada nós estávamos! “Eu nunca estive tão dentro de você mesmo”. Parece que conseguiria ouvir até o pulsar do seu relógio misturado ao ronco do motor e dos pneus ao entrarem nas imperfeições da estrada, mas aquilo me introduzia ainda mais, agora, no teu pensamento.
“Eu nunca estive tão abandonado de mim mesmo”. Você se virava na cama e tentava achar uma solução. Na tua cabeça confusa, eu me emergia. Como uma espécie de osmose meu pensamento encontrava o seu e me deixava ainda mais perto do que eu havia me tornado: duas pessoas distintas.
Em certa parte de mim estava a encruzilhada, o desencontro daquela noite gélida e a vontade de me inserir em você. No oposto dessa estava eu, perto de mim mesma, perto da outra que havia me tornado, tentando unir as duas em uma solução.
“Eu nunca estive tão eu em você mesmo”.
Foi aí que cheguei ao meu destino. E a freada brusca do ônibus me colocava sobreposta àquela outra que eu carregava em meus ombros, a vida continuava, eu ali, e a outra aí: ao teu lado, ouvindo aquele som pra lá de conhecido...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Já fomos



Para ouvir ao som de Pra você guardei o amor - Nando Reis

Nunca pensei que sentiria dor de perda semelhante a essa. É uma pena eu não poder ser clara, mas esses amores que vão surgindo lentamente são como borrachas que apagam o pequeno rabisco que me tornei durante esses anos. Você nem sabe do que se trata. Isso são apenas pensamentos aleatórios que me vem a cabeça quando lembro da cena do último final de semana.
E na tua? O que se passa na tua cabeça? Andas dizendo que nunca se apaixonou. Não acho consolo, nem explicação. Então, esse amor que acolhi aqui dentro, como uma flor delicada, não passou de enganação? Guardei sem motivo algum, em vão. E esse é o meu jeito, esse é o jeito que eu tenho de mostrar pra ti todos as conclusões que tiro através da tua frieza, dessa tua eterna infância. Essa tua falta de seriedade…
Engraçado, pense comigo, porque o céu já não está mais tão furtacor? Não sei se é o efeito de tantos prédios que me rodeiam nessa cidade estranha ou se é o sinal de que tudo perdeu cor pra nós dois. Nós dois quem? Fomos um dia, algo como… completos. E o gelo foi queimando de vagar o compasso da minha pulsaçao, foi me deixando tão longe, tão distante de todas as linhas e parágrafos da história que construimos (que construí).
Sigo comumente, sem querer voltar. Pronta pra um recomeço ou um simplesmente: tentar!