segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Talvez fosse


Um vidro, e além uma janela. Uma janela retangular que me leva a ver a rua, uma planta verdinha, uma arvore velha e mais outra seca. Da janela da sala eu vejo o tempo, que não está mais tão ensolarado como nos verões passados. Dessa mesma janela, há dias atrás, eu pude ver o sol, um sol quadrado.

O tempo está fechado, talvez seja por esse motivo que escrevo. Típico. Também tenho me sentido triste nos últimos dias, mas é uma tristeza que não está ao meu alcance. Simplesmente existe. E sem motivo.

Todos os dias quando eu abro os olhos eu sinto que alguém existe além de mim, mas aqui dentro, entre uma sístole e outra esse alguém grita. E sem motivo. Mas está, sobretudo, vivo. E aqui dentro.

Talvez fosse um anjo, talvez fosse Deus. E quem sou eu pra abrigar Deus?
Eu sou alguém que carrega outro alguém. E vivo. Mas não pode ser Deus, porque o deixei em alguma tristeza passada, ou em um soluço de desespero depois do erro inevitável. Eu devo tê-lo esquecido.

Eu carrego alguém que berra. Como se estivesse preso, insatisfeito pelo lugar frio que o abrigo. Entre sístoles e diástoles. Quem sabe se eu revelar que te amo...
Não. Não pode ser que eu te amo, porque essa palavra não serviria dentro de mim, tão pequena e triste.

Bem, e se não for exatamente alguém? Mas pode ser que esse alguém seja exatamente o que chamamos de ‘eu’, e com cuidado. Eu carrego uma vida entre um ventrículo e outro, uma vida que se chama ‘eu’. Uma vida esquecida e triste.

Uma vida que se quer lembro-me de dizer que amo. Pois, não amo. Uma vida triste, que às vezes parece Deus, outras vezes parece anjo. Uma vida muito incrédula para ser chamada de ‘eu’. Tão esquecida. E sem motivo.

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